Gênero do discurso como ritual

O que é colocado em jogo num diálogo vai muito além da gramática e do dicionário.

Quando compreendemos isso, a nossa capacidade de nos situarmos numa conversa, numa leitura ou num processo social qualquer, se enriquece muito.

O enunciado é concreto, diria Bakhtin, o seu sentido depende do contexto - e não vamos confundir isso com o co-texto, pois os discursos carregam em si, além das palavras, todo um feixe de relações sociais, valores, crenças e códigos que não são pronunciados nem escritos em lugar nenhum, mas que a comunidade/sociedade conhece muito bem.

A propósito, Foucault foi muito feliz ao falar em "ritual de discurso", e não em "enunciado concreto" ou "gênero do discurso" como o bom e velho Bakhtin, embora, a meu ver, esses conceitos sejam bastante afins.

Pois é disso que se trata, um ritual, não apenas de palavras e frases, mas de formas socioculturais, de história.

 

Notas:

1) Sobre gêneros do discurso, recomendo o livro homônimo de Mikhail Bakhtin.

2) A expressão "ritual de discurso" aparece em História da Sexualidade I - A vontade de Saber, de Michel Foucault.

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