Os usos da verdade na política
A coragem da verdade e da "fala franca" ( parresía ) foi o tema dos dois últimos cursos dados por Foucault no Collège de France entre 1982 e 1984. Alguns breves comentários a respeito podem iluminar, eu suponho, certas referências à verdade na política brasileira atual. No primeiro desses cursos, O Governo de Si e dos Outros (FOUCAULT, 2010), o filósofo francês analisa como, em vários textos da Grécia antiga, a palavra parresía passou por uma transformação, deixando de significar o mero direito de se dirigir livremente à assembleia de concidadãos para, nos discursos de Sócrates, se constituir em uma parresía filosófica. Qual era a diferença? Grosso modo, no primeiro caso, que Foucault chamou de parresía pericliana, a fala franca apela à retórica para, em uma acirrada disputa entre oradores e líderes, convencer a cidade a se unir sob uma só ideia. "[Na] situação conflitual em que pessoas pertencentes à elite ou que querem jogar o jogo agonístico se deparam c