O sujeito da linguagem
Por que, dentre todos os enunciados que uma língua nos permite produzir em um certo momento, apenas um é de fato enunciado? O que produz esse acontecimento singular?
Essa questão, debatida por Foucault em livros como A Arqueologia do Saber e A Ordem do Discurso, é também central para mim aqui. Retomo-a sempre, seja como um norte dá algum rumo para os meus estudos, seja como um quadro em que organizo as figuras que coloco em cena nos meus textos.
O filósofo francês entende esse acontecimento do enunciado enunciado como um produto da história, parte de uma formação discursiva, governado por procedimentos de controle dos discursos.
No que se refere à criação de enunciados, a liberdade do falante seria bastante relativa portanto. Até mesmo a produção de verdades pela ciência dependeria menos de um esclarecimento racional do que de um saber historicamente constituído, isto é, de um conjunto de valores, crenças e premissas que são da dimensão do social-cultural-político.
Talvez quanto a este ponto, Bakhtin e os seus colegas do círculo nos lembrassem que todo enunciado, seja ele de qual esfera for - jurídica, científica, literária, etc. -, não apenas reflete a realidade, como também a refrata, por ser a linguagem inseparável da ideologia. Conforme argumenta o filósofo russo em O Freudismo, o nosso próprio pensamento é inseparável da linguagem. Assim, qualquer arrazoar seria ideológico.
Tanto em Bakhtin como em Foucault, descobrimos então um sujeito que não somente usa a linguagem como é constituído por ela.
Para aqueles que acham angustiante a ideia de que não temos nem a liberdade de pensamento nem a liberdade de expressão que supomos ter, talvez console lembrar que a mera tomada de consciência da nossa sujeição já é um certo modo de ser livre e de se tornar outro.
Mas essa não é uma tese minha; é de Foucault.
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